EFEITO DA ADUBAÇÃO FOSFATADA NO PLANTIO E EM SOQUEIRAS (*)

INTRODUÇÃO

O estudo dos elementos macronutrientes utilizados na fertilização da cana-de-açúcar tem consumido grande parte do tempo despendido em pesquisas desenvolvidas no setor, especialmente para o fósforo, nitrogênio e potássio.

Orlando et alii (11), estudando o crescimento e a absorção de macronutrientes pela cana-de-açúcar, variedade CB4176, em função da idade, em solos do Estado de São Paulo, verificaram que tanto para a cana-planta como para a cana soca, o potássio e o nitrogênio são nutrientes extraídos em maiores quantidades e o fósforo em menor.

Entretanto, é consenso geral, que no Brasil, o fósforo é o elemento cuja deficiência no solo mais limita a produção agrícola.

As recomendações de adubações fosfatadas nas regiões produtoras de cana-de-açúcar no país, baseiam-se em estudos específicos de calibração envolvendo o teor dos nutrientes no solo fornecido por analise química e resposta da cultura à adubação fosfatada, (STRAUSS (18), BITTENCOURT et alii (5), MARINHO & ALBUQUERQUE (10), ZAMBELLO JR et alii (22), RODELLA et alii (15) MANHÃES et alii (9), SOBRAL & LIRA (17).

SARTORI (16) estudando a difusão do f6sforo no solo, observou que o elemento não se perde por volatilização ou lixiviação no solo, sendo seu deslocamento praticamente inexistente. Desta forma, é de se esperar que em solos submetidos a freqüentes adubações fosfatadas, os teores deste nutriente se elevem a níveis tais, que novos fornecimentos de fósforo não venham demonstrar reações positivas da cultura à sua aplicação. Assim, pode-se entender observações de ALVAREZ & PACHECO (3), ESPIRONELO & OLIVEIRA (6) e ZAMBELLO JR. & ORLANDO FILHO (21), de que maiores respostas à adubações fosfatadas devem ser esperadas nos solos em que se cultiva pela primeira vez a cana-de-açúcar. Por outro lado, é de se esperar que em solos deficientes do elemento, a adubação em fundação no plantio proporcione destacável efeito residual nas socas subsequentes, considerando-se a baixa extração pela cultura e ausência de perdas no solo. Contudo, este efeito residual depende de muitos fatores tais como: poder de fixação do fósforo pelo solo, nível inicial de fósforo disponível, taxa e forma de fósforo aplicado.

ZAMBELLO JR. & ORLANDO FILHO (20), estudando o efeito residual da adubação fosfatada de plantio em solo tradicionalmente cultivados com cana-de-açúcar no Estado de São Pailo, constataram que este efeito estava relacionado com o teor inicial de fósforo (inferior ao nível crítico proposto por ZANBELLO JR. et alii (5)) do solo e da adubação de plantio.

ALBUQUERQUE et alii (1) estudando competição entre fontes de fósforo e efeitos residuais em socarias, observaram reações significativas à adubação fosfórica a qual proporcionou efeito residual igualmente significativo nos solos em que o teor de fósforo era inferior a nível crítico proposto por MARINHO & ALBUQUERQUE (10) de 9 ppm. Nestes solos pobres em fósforo constataram também aumentos significativos para a adubação com fósforo em socarias. Concluíram ainda que o efeito residual apresentado pelos fosfatos solúveis superou em todos os experimentos o resultado apresentado pelo hiperfosfato.

Ainda ALBUQUERQUE & MARINHO (2) estudando o efeito residual de fósforo em cana soca nos tabuleiros de Alagoas, observaram que no solo cujo teor de fósforo era muito baixo, houve efeitos residuais significativos da adubação fosfórica de fundação na soca e na ressaca, porém, a adubação fosfatada da soqueira somente proporcionou acréscimos significativos de produção na ressoca do tratamento que havia recebido a menor dose do nutriente em fundação (90Kg de P2O5/ha). Em outro solo, com teor médio de fósforo observaram efeito residual significativo da adubação fosfórica do plantio somente na ressoca, sendo que as dosagens de fósforo utilizadas nas soqueiras não proporcionaram reações significativas tanto na soca quanto na ressoca.

No Estado de São Paulo, ZAMBELLO JR. et alii (19) constataram que o fósforo provocou aumentos significativos na produção de soqueiras de cana-de-açúcar em três tipos de solos que encontravam-se com teores do elemento abaixo ou igual ao nível crítico proposto por BITTENCOURT et alii (3).

GUIMARÃES et alii (8) estudando adubação fosfatada em soqueiras de cana-de-açúcar concluíram que as mesmas não reagiram ao fósforo em dois tipos de solo (LR e TE) independentemente do sistema de aplicação (superficial ou em profundidade) sugerindo que a adubação de plantio fora suficiente para fornecer o nutriente à cultura por dois ou mais cortes consecutivos.

ESPIRONELLO et alii (7) estudando os efeitos da adubação NPK, em três profundidades, em soca de cana-de-açúcar, em doze locais cultivados consecutivamente por mais dez anos com a cultura, concluíram que o fósforo não influenciou a produção de cana-de-açúcar por área em nenhum dos experimentos e nem no conjunto destes.

PENATTI & RODRIGUES (12) analisando resultados obtidos em 8 áreas experimentais, concluíram não haver resposta na produtividade da soqueira da cana-de-açúcar à adubação fosfatada, apesar de haver uma melhor resposta ao nitrogênio e potássio, na presença de fósforo. Ainda PENATTI et ali (13), estudando adubação fosfatada na soqueira de cana-de-açúcar em 15 áreas de testes, cujos solos apresentavam níveis de fertilidade inferiores ou iguais ao nível crítico proposto por BARBIERI et alii (4) e RAIJ et alii (14), observaram que apenas uma área respondeu a adubação fosfatada, onde a dose econômica de 15 Kg de P2O5/ha proporcionou o acréscimo de 11 t/ha no rendimento agrícola, concluindo que o número de cortes das soqueiras não teve influência nas respostas à complementação fosfata provavelmente devido ao efeito residual do fósforo aplicado ao plantio.

Apesar dos resultados contraditórios observados no estudo da adubação fosfatada de soqueiras do Estado de São Paulo, um fato comum nas conclusões em que não foram observados efeitos positivos do nutriente é a sugestão de que a adubação de plantio tenha proporcionado efeitos residuais suficientes para o crescimento das soqueiras subseqüentes (GUIMARÃES et alii (8), PENATTI (13)). Porém até o momento nos faltam resultados experimentais específicos que reforcem tal teoria, principalmente em locais com extrema carência do nutriente. Para tanto, seria necessário caracterizar a necessidade de adubação fosfatada na fundação e seu efeito sobre a a produtividade da cana planta, avaliar seus efeitos residuais nas soqueiras subseqüentes e as necessidades de adubação em soqueiras.

Assim, o objetivo do presente trabalho é estudar a reação da cana-de-açúcar à adubação fosfatada de fundação, efeitos residuais e adubação de soqueiras subsequentes, num solo cujo teor de fósforo pré avaliado por análise química, apresentava-se em classe muito baixa de fertilidade, segundo BITTENCOURT et alii (5), ZAMEBELLO JR. et alii (22) e RODELLA et alii (15).

MATERIAIS E MÉTODOS

O ensaio foi instalado em um solo Podzólico Vermelho Amarelo, variação Laras (PVLs), na Fazenda Paineiras (Usina Santa Terezinha, empresa coligada à Usina São João de Araras), em local originalmente sob vegetação de cerrado. A análise de solo (tabela 1), demonstrava níveis extremamente baixos de fósforo segundo BITTENCOURT et alii (5), ZAMBELLO JR. et alii (22) e RODELLA et alii (12 e 15 ).

Quadro I - Composição química do solo onde foi implantado o experimento

Características químicas

Teores

Teores em ppm

PH

5,73

 

Carbono %

0,68

 

Fósforo (e mg PO4-3/ 100ml de solo)*

0,05

5

Fósforo (e mg PO4-3/ 100ml de solo)**

0,02

2

Potássio (e mg K+/ 100ml de solo)*

0,06

24

Potássio (e mg K+/ 100ml de solo)**

0,06

228

Cálcio (e mg Ca++/ 100ml de solo)

1,14

119

Magnésio (e mg Mg++/ 100ml de solo)

0,99

 

Hidrogênio (e mg H+/ 100ml de solo)

2,37

 

Alumínio (e mg Al+3/ 100ml de solo)

0,13

 

* Extraído com H2SO4 0,5N; ** Extraído com H2SO4 0,05N

Utilizou-se para a análise estatística do ciclo da cana planta um delineamento experimental de blocos casualizados com três repetições por bloco, repetidos três vezes. Para as soqueiras seguintes, utilizou-se delineamento em parcelas subdivididas com 3 repetições em blocos ao acaso. Desta forma o experimento passou a apresentar três tratamentos na cana planta e três subtratamentos nas soqueiras que corresponderam às parcelas e subparcelas respectivamente, totalizando vinte e sete unidades experimentais.

Assim os tratamentos corresponderam às doses de fósforo (0, 150 e 300Kg de P2O5/ha), aplicados no fundo do sulco de plantio juntamente com o nitrogênio e o potássio. Após o corte da cana planta, subdividiu-se as parcelas e estabeleceram-se os subtratamentos os quais receberam as doses de 0, 45 e 90 Kg de P2O5 /ha, acompanhadas de 80 Kg de N/ha e 120 Kg de K2O/por ha. As dosagens de nitrogênio e potássio da primeira soca foram mantidas na segunda e terceira soca e as de fósforo repetidas após o terceiro corte.

As adubações de NPK das soqueiras foram realizadas em um intervalo de sete dias após a colheita e o fertilizante foi colocado ao lado das touceiras e coberto com terra pelo implemento de tríplice operação utilizado comercialmente para o cultivo da soqueira. Essa operação de cultivo foi realizada após a retirada manual do palhiço residual das parcelas. A variedade plantada foi a NA5679, em razão de ser plantada em aproximadamente sessenta por cento da área da Empresa.

As unidades experimentais constaram de sete linhas, com dez (10) metros de comprimento e um metro e quarenta (1,40) de espaçamento entre as linha de cana, tendo como bordadura as linhas laterais. A instalação do ensaio foi realizada em abril de 1982 e a colheita da cana planta (10 corte) efetuada no mês de junho de 1983. Os demais cortes ocorreram na seguinte ordem: agosto de 1984 (20 corte); setembro de 1985 (30 corte) e setembro de 1986 (40 corte).

Para a determinação das produtividades foram pesadas as cinco linhas centrais de cada unidade experimental e para as determinações tecnológicas (especificamente a pol da cana) foram coletados três colmos seguidos em cada uma das linhas úteis, totalizando quinze (15) colmos por amostra de cada uma das parcelas. Os fertilizantes empregados foram a uréia, o superfosfato triplo e o cloreto de potássio, tanto para a adubação de plantio como para o cultivo das soqueiras posteriores.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

PRODUÇÕES AGRÍCOLAS (t de cana/ha)

A tabela II indica as produtividades agrícolas expressas em t cana/ha para os quatro cortes em função dos tratamentos, com os valores do teste F, coeficientes de variação e a comparação de médias pelo teste de Tukey ao nível de 5%.

Tabela II - Tratamentos e subtratamentos, produção de cana (t de cana/ha), valores de teste F, coeficientes da variação e comparação de médias pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Adubação (kg de P2O5/ha)

Produtividade (t de cana/ha)

Trat (T)

Subtratamentos (S.T.)

(T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

 

0

 

0

0

0

 

 

69 cB

 

63 cC

 

54 bC

45

0

45

61 B

86 B

89 bB

84 C

87 bB

78 B

86 aA

90

0

90

 

 

102 aB

 

103 aB

 

93 aA

 

150

 

0

0

0

 

 

116 aA

 

98 bB

 

72 bB

45

0

45

128 A

116 A

120 aA

106 B

111 aA

83 A

88 aA

90

0

90

 

 

112aAB

 

109 aAB

 

88 aA

 

300

 

0

0

0

 

 

119 aA

 

114 aA

 

81 bA

45

0

45

131 A

119 A

120 aA

114 A

112 aA

86 A

90 aA

90

0

90

 

 

119 aA

 

116 aA

 

88 abA

F (Tratamentos) (T.)

 328,3**

 47,0**

127,0** 

-

25,6** 

F (Subtratamentos) (S.T.)

-

-

9,3**

-

35,0**

-

73,8**

F (T.) vs. (S.T.)

-

-

11,9**

-

15,3**

-

13,0**

C.V. % (Tratamentos)

6,1 

7,4 

4,0 

3,0 

C.V. % (Subtratamentos)

4,8 

4,5 

 -

 4,9

Para todos os cortes, observa-se baixos valores dos coeficientes de variação, tanto para tratamentos, quanto para subtratamentos, demonstrando boa precisão experimental. Observa-se também valores do teste F sempre significativos a 1% de probabilidade de erro, inclusive, após o 10 corte, para a interação "tratamentos (T.) x subtratamentos (S.T.)" de forma que tanto avaliações dos efeitos residuais da adubação fosfatada de plantio quanto das doses utilizadas nas soqueiras não devam ser consideradas independentes.

A produtividade apresentada pela cana planta indica que os tratamentos que receberam adubação fosfatada no sulco de plantio superaram significativamente a testemunha. Porém, o acréscimo da dosagem de 150 para 300 Kg de P2O5/ha, não resultou em aumento significativo da produção agrícola, demonstrando que mesmo em solos com extrema carência do elemento, as dosagens usuais do desse fertilizante (em torno de 150 Kg de P2O5/ha) podem ser suficientes para obtenção de excelentes produções de cana nesse estágio.

Por outro lado, essa elevada reação da cana planta ao fornecimento de fósforo já era esperada. O teor extremamente baixo do elemento demonstrado na análise de solo e o fato de que a área experimental jamais havia recebido fertilizações fosfatadas, repete observações de ALVARES & PACHECO (3), ESPIRONELLO & OLIVEIRA (6) e ZAMBELLO JR. e ORLANDO FILHO (21) de que maiores respostas à adubações fosfatadas são esperadas em solos com características semelhantes ao da área do experimento, onde se inicia o cultivo da cana-de-açúcar. Entretanto, a importância dessa determinação da necessidade do fornecimento de fósforo para a cana planta, foi a possibilidade de avaliações das necessidades das soqueiras subsequentes.

Assim, observa-se na coluna da 1a soca (20 corte) que a produção agrícola aumentou significativamente com as doses de fósforo aplicadas ao tratamento que não havia recebido adubação fosfatada por ocasião do plantio. Por outro lado, na mesma coluna evidencia-se o efeito residual significativo do fósforo em fundação comparando-se os tratamentos com os subtratamentos sem o fornecimento do nutriente à soqueira. Evidencia-se também que o efeito residual foi equivalente para os dois níveis de fornecimento de fósforo em fundação(150 e 300 Kg P2O5/ha) sendo ainda esse efeito residual responsável pela ausência de resposta à adubação fosfatada utilizada para a 1a soca (20 corte).

Na coluna da 2a soca (30 corte) pode-se observar que não ocorreram diferenças significativas do efeito residual da adubação de soqueira (subtratamentos), mas ela foi evidente para o tratamentos com a maior dosagem de fósforo no plantio. Isso mostra que nestas condições, apenas a dose de 150 Kg de P2O5/ha aplicada em fundação foi insuficiente para suprir as necessidades deste corte. Aqui reação da complementação ao fósforo residual apresentou resultado significativo quando aplicado na soqueira do ciclo anterior. Entretanto, ao contrário do que ocorreu com o tratamento sem fósforo no plantio, esta reação limitou-se à dose de 45 Kg de P2O5/ha, uma vez que a dose maior (90 Kg de P2O5/ha) não apresentou incremento na produção.

Observa-se ainda neste ciclo que os tratamentos com subtratamentos sem fósforo, continuaram apresentando diferenças significativos de produção em função das doses do nutriente aplicado em fundação, demonstrando que o efeito residual da adubação fosfatada de plantio relaciona-se com a carência do elemento no solo e com os níveis de fornecimento do nutriente através de adubações.

Na coluna da 3a soca (40 corte) observa-se que novamente os níveis crescentes de fósforo no plantio (subtratamentos sem fósforo nas soqueiras) proporcionaram acréscimos significativos da produção agrícola, confirmando a constatação anterior de que o efeito residual da fertilização fosfatada de fundação depende da carência do elemento no solo e da quantidade do nutriente fornecida no plantio. Nota-se que os efeitos residuais da dosagem máxima de fósforo utilizada no plantio não se mantiveram e observou-se reação significativa ao fornecimento do nutriente na soqueira.

Essa reação demonstrou não ter sido suficientemente alta a dosagem inicial para suprir satisfatoriamente as necessidades da cultura durante todo seu ciclo. Com isso foi possível observar que na medida em que o número cortes das soqueiras aumentam, pode aparecer a influencia da complementação fosfatada, dependendo do efeito residual apresentado pela adubação de plantio. Entretanto, observa-se que o aumento da dose de 45 para 90 Kg de P2O5/ha não resultou em acréscimo significativo da produção, confirmando os resultados observados no ciclo da 2a soca para a dose de 150 Kg de P2O5/ha em fundação.

Por outro lado o fornecimento do nutriente às soqueiras proporcionou neste corte a obtenção de produtividades estatisticamente semelhantes para os três níveis de adubação fosfatada de plantio, revelando a possibilidade de recuperação de baixas produções decorrentes de fertilizações insuficientes com o elemento em fundação.

QUALIDADE INDUSTRIAL (Pol % cana)

A tabela III evidencia as porcentagens da pol da cana para os quatro cortes em função dos tratamentos aplicados com os valores do teste F, coeficiente de variação e a comparação de médias pelo teste de Tukey ao nível de 5%.

Verifica-se para todos os cortes, baixos valores dos coeficientes de variação, tanto para tratamentos quanto para subtratamentos, demonstrando boa precisão experimental. Observa-se valores do teste F significativos ao nível de 5% para tratamentos na coluna da 2a soca (30 corte) e ao nível de 1% para a subtratamentos na coluna da 3a soca (40 corte), sendo que a interação "tratamentos x subtratamentos" em ambos os casos não foi significativa. Assim, verifica-se que na 2a soca (30 corte) a dosagem máxima de fósforo em fundação proporcionou em média, valores de Pol % cana significativamente inferiores ao tratamento sem fósforo no plantio. Reação semelhante ocorreu na 3 a soca (40 corte), quando as médias de Pol % cana, dos subtratamentos decresceram significativamente com as doses crescentes de fósforo aplicadas por ocasião do cultivo (Tukey a 5% = 0,50%).

Tabela III - Tratamentos e subtratamentos, qualidade industrial (Pol % cana), valores de teste F, coeficientes da variação e comparação de médias pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Adubação (kg de P2O5/ha)

Produtividade (t de cana/ha)

Trat (T)

Subtratamentos (S.T.)

(T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

 

0

0

0

 

 

16,71 aA

 

16,51 aA

 

15,15 aA

0

45

0

45

15,50 A

16,95 A

17,09 aA

16,37 A

16,73 aA

14,58 A

14,33 aA

 

90

0

90

 

 

17,06 aA

 

16,95 aA

 

14,92 aA

 

0

0

0

 

 

17,41 aA

 

15,90 aA

 

14,94 aA

150

45

0

45

15,73 A

17,18 A

17,12 aA

16,17 AB

16,22 aA

14,53 A

14,39 aA

 

90

0

90

 

 

17,00 aA

 

16,40 aA

 

14,24 aA

 

0

0

0

 

 

16,77 aA

 

15,82 aA

 

15,14 aA

300

45

0

45

15,73 A

16,90 A

16,94 aA

15,98 B

15,88 aA

14,87 A

14,76 aA

 

90

0

90

 

 

17,00 aA

 

15,97 aA

 

14,70 aA

F (Tratamentos) (T.)

0,84

3,33

-

7,20*

-

1,77

-

F (Subtratamentos) (S.T.)

-

-

0,15

-

1,64

-

7,56**

F (T.) vs. (S.T.)

-

-

2,23

-

0,15

-

0,31

C.V. % (Tratamentos)

2,78

1,44

-

2,95

-

2,89

-

C.V. % (Subtratamentos)

-

-

2,12

-

2,61

-

2,73

Por outro lado, os valores de Pol % cana, tanto a cana planta quanto a 1a soca (20 corte), não foram influenciados pelas adubações fosfatadas realizadas, apesar da grande reação observada nas suas produções agrícolas. Em conseqüência da aleatoriedade dos efeitos observados na qualidade da matéria-prima os mesmos devem ser considerados com certa cautela, sugere-se um maior refinamento na metodologia utilizada, proporcionando resultados mais consistentes.

PRODUÇÕES DE AÇÚCAR (t Pol/ha)

Na tabela IV encontram-se os dados de produção de açúcar, expressos em t Pol/ha, para os quatro cortes em função dos tratamentos, com os valores do teste F, coeficientes de variação e a comparação de médias pelo teste de Tukey ao nível de 5%.

Como os resultados das análises estatísticas da Pol % cana realizadas individualmente para cada corte não revelaram efeitos significativos das adubações fosfatadas efetuadas tanto na cana planta quanto na 1a soca (20 corte), infere-se que nestes ciclos as variações observadas nas produções de açúcar (t Pol/ha) foram conseqüências das oscilações das produções agrícolas (t cana/ ha).

Tabela IV - Tratamentos e subtratamentos, produção de açúcar (t de Pol/ha), valores de teste F, coeficientes da variação e comparação de médias pelo teste de Tukey, a 5% de probabilidade.

Adubação (kg de P2O5/ha)

Produtividade (t de cana/ha)

Trat (T)

Subtratamentos (S.T.)

(T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

(T.)

(S.T.)

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

Cana

Planta

1a

soca

2a

soca

3a

soca

 

0

 

0

0

0

 

 

11,54 cB

 

10,46 cC

 

8,19 bC

45

0

45

9,54 B

16,64 B

15,11 bB

14,14 B

14,54 bB

11,25 C

12,31 aA

90

0

90

 

 

17,34 aB

 

17,34 aA

 

13,26 aA

 

150

 

0

0

0

 

 

20,14 aA

 

15,55 bB

 

10,71 bB

45

0

45

20,11 A

19,88 A

20,55 aA

17,09 A

17,93 aA

11,95 B

12,65 aA

90

0

90

 

 

18,96 aB

 

17,80 aA

 

12,50 aA

 

300

 

0

0

0

 

 

19,93 aA

 

17,98 aA

 

12,19 aA

45

0

45

20,50 A

20,14 A

20,31 aA

18,08 A

17,84 aA

12,77 A

13,21 aA

90

0

90

 

 

20,19 aA

 

18,44 aA

 

12,91 aA

F (Tratamentos) (T.)

 472,8**

 39,3**

75,8** 

-

32,5** 

F (Subtratamentos) (S.T.)

-

-

7,1**

-

40,9**

-

31,2**

F (T.) vs. (S.T.)

-

-

10,1**

-

15,5**

-

7,06**

C.V. % (Tratamentos)

5,2 

8,2 

4,3 

3,3 

C.V. % (Subtratamentos)

5,7 

4,7 

 -

 6,4

Na 2a soca (30 corte), apesar da ocorrência do efeito depreciativo significativo da maior dosagem de fósforo em fundação na Pol % cana, a reação ao nutriente foi semelhante à das produções agrícolas (Tabela II), porém, devido à interação t cana/ha x Pol % cana, a diferença significativa entre as produções agrícolas dos tratamentos com doses 0 e 300 Kg de P2O5/ha no plantio mais a complementação de 90 Kg de P2O5/ha na 1a soca (20 corte), passou a não significativa. Já os demais resultados são decorrentes dos efeitos observados nas produtividades agrícolas.

Na 3a soca (40 corte) a reação positiva nas produções agrícolas das soqueiras que receberem níveis crescentes de fósforo no cultivo e que no plantio haviam recebido a dosagem máxima do nutriente, foi inibida pela diminuição na porcentagem de Pol% na cana decorrente do fornecimento do elemento a essas socas e consequentemente suas produções de açúcar por unidade de área foram estatisticamente iguais. Contudo, os demais efeitos observados nas produções de açúcar (tabela IV) são os mesmos verificados na produção agrícola (tabela II).

CONCLUSÕES

O presente trabalho permitiu as seguintes conclusões:

·           Solos carentes em fósforo limitam a produtividade da cana-de-açúcar e o fornecimento do nutriente no plantio proporciona incrementos espetaculares na produção da cultura.

·           Dosagens usuais de fósforo empregadas pelos produtores (em torno de 150Kg de P2O5/ha solúvel) podem ser suficientes para suprir a necessidade da cana planta em solos com deficiência do nutriente.

·           A adubação fosfatada de fundação, quando necessária, proporciona efeito residual ao longo do ciclo da cultura que se relaciona com a quantidade do elemento fornecida por ocasião do plantio.

·           A utilização de doses elevadas de fósforo no plantio (até 300 Kg de P2O/ha) podem ser insuficientes ao longo dos cortes da cultura, necessitando-se suprir as soqueiras com o elemento.

·           O fornecimento de fósforo às soqueiras promove aumentos significativos de produção e proporciona efeito residual também significativo, porém, estas reações dependem da deficiência do nutriente no solo e da adubação fosfatada de plantio.

·           A adubação fosfatada das soqueiras permite a recuperação de produções afetadas pelo suprimento insuficiente do elemento na fundação.

·           Adubações fosfatadas podem depreciar a qualidade da matéria-prima (Pol% cana), inibindo efeito benéfico na produção agrícola, resultando em ganhos inexpressivos na produção de açúcar (t Pol) por unidade de área.

(*) Relatório elaborado por A.M.L. Medeiros, responsável pela Seção de Nutrição e Fertilidade, Departamento Técnico Agrícola, da Cia. Indal. e Agr. São João de Araras /SP em 1988.

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